Carne fraca

Estou desde sexta digerindo as notícias sobre a operação Carne Fraca, que descobriu irregularidades nas carnes comercializadas. E, depois de ler muito sobre o que foi descoberto, sobre o consumo de carne, ver memes e muita briga entre vegetarianos e comedores de carne na internet, eu me atenho dois pontos: a crueldade e a impotência.

Crueldade

Pessoas permitem que outras pessoas adulterem comida. Pessoas permitem que pessoas comam carne estragada. Pessoas aceitam que organizações lucrem em cima da alimentação de pessoas. Pessoas pagam propina para que empresas dominadas por outras pessoas lucrem mais. Como isso faz sentido? Que mundo é esse? Alguém me explica!

Como alguém pode ter tão pouca compaixão para se envolver em algo assim? Quão desumanizados estamos que permitimos que uma empresa lucre vendendo carne estragada para alguém?

Impotência

Nós nos afastamos da comida. Não plantamos mais o que comemos. Nosso estilo de vida não permite que criemos e plantemos nosso alimento. Industrializamos a comida. E agora somos reféns da indústria. Algumas pessoas até podem escolher o que vai no prato, podem comprar direto do produtor, podem ter horta em casa, podem substituir a proteína animal por grão de bico, podem comprar carne do pequeno produtor que cria os bichinhos livres, com alimento orgânico e sem antibióticos. Mas elas são privilegiadas. A maioria de nós compra no mercado o que dá para pagar, não tem tempo, educação ou instrução para pensar em saúde na alimentação. A maioria compre e come o que a indústria apresenta como gostoso e saudável.

E, quando explode uma bomba de carne podre, adulterada e cheia de papelão na nossa mesa, nos sentimos impotentes. Vamos comer o quê?

Esperança

Diante dessa sensação de não ter para onde correr, eu espero que possamos olhar para trás e ver uma época em que tínhamos controle sobre o que comíamos. Nem todo mundo pode e precisa criar a própria galinha, mas, se todos nos importarmos com a caminho que que o peito de frango percorreu até chegar ao nosso prato, teremos mais controle. Se soubermos quem é responsável pela produção da linguiça que colocamos na air fryer, teremos mais controle.

Informação é poder. E para nunca mais nos sentirmos impotentes em relação a nossa própria alimentação e consequentemente ao nosso corpo, precisamos nos informar sobre quem produz nossa comida e cobrar responsabilidade e respeito.

Não me iludo a ponto de esperar que as pessoas que adulteram alimentos e pessoas que permitem que isso aconteça criem uma consciência. Mas me atrevo a sonhar que as pessoas verdadeiramente preocupadas com alimentação vigiem cada vez mais de perto a ação de quem assume assume a responsabilidade de oferecer comida de qualidade.

PS: Se puderem, experimentem diminuir a carne da dieta. Um dia da semana sem carne faz muita diferença. E se você está na posição de escolher, considere exercer essa escolha uma obrigação moral.

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