Todo sábado, depois da aula de roteiro, nosso professor convida os alunos a se juntarem a ele para o almoço. É bom para continuarmos discutindo o que foi abordado na aula, mas também é um ritual para criar vínculos na turma. Hoje não teve almoço, mas eu estava com fome de PF e coloquei meus dedos e smartphone na missão de encontrar um bom prato feito na Santa Cecília. Quando o Google falhou em me apresentar um resultado satisfatório, apelei para o Whatsapp. Afinal, quem tem amigos tem tudo, inclusive dicas de restaurantes. Leozinho me falou que a Conceição Discos ficava por ali e tinha boa reputação. Achei o melhor caminhar para percorrer os mil metros que separavam do almoço e caminhei, fantasiando com arroz, feijão, bife, batata frita e salada que me esperavam. Como uma lesma, deixei uma rastro de baba entre as ruas Dr. Gabriel dos Santos e Imaculada Conceição.

Dobrando a esquina da Barão de Tatuí, ali onde fica aquela gracinha da Banca Tatuí, deparei-me com um ambiente do qual eu não esperava que saísse o PF que meu corpo tanto queria. O Conceição Discos é um café misturado com loja de discos, hispter até o último fio da barba lenhador. Mas eu esteva com fome e a indicação era boa. Entrei e logo uma moça – que depois eu descobri que era a própria Conceição – deu calorosas boas vindas. Olhei as mesas e, estando solo, decidi ficar em um lugar no balcão.

Pequena pausa para dizer que eu tenho horror a quem ocupa mesa com muito mais lugares do precisa. Exemplo: casal que senta em mesa para seis.

Eu tenho um projeto fotográfico intitulado Across the Table, por isso, tendo a reparar muito em quem ou o que me encara quando estou à mesa. Hoje eu estava no balcão, mas minha vista não deixava a desejar. Do outro do balcão, estava a Talitha Barros. Cozinhando. Preparando o almoço meu e de todos que decidiram parar por ali neste sábado. Ela conduzia uma belíssima e gigante frigideira de ovos fritando. Logo, uma garçonete me atendeu e deu quase devastadora notícias de que o prato do dia não era um tradicional PF de arroz, feijão e bife, mas arroz de costela com mandioca. Nem cheguei a cogitar a possibilidade de continuar minha busca pelo prato feito. Eu já estava conquistada. Pedi o prato do dia sem ovo e uma limonada para acompanhar.Esta veio rápido e me hidratou enquanto eu observada o mundo em criação atrás do balcão. Ovos fritando sem parar – dá pra colocar ovo no que você quiser lá. Uma panela de arroz a postos. E uma panela de carne, mandioca e caldo. A beleza da cena e a fome não me deixavam mudar o foco do olhar. O prato logo ficou pronto e foi servido. De cara pareceu pequeno demais, mas eu estava comendo com os olhos. Boca e estômago logo entraram em ação e eu fui descobrindo que a porção era do tamanho certo para minha fome. Comer é um aprendizado constante para mim. Hoje eu tive uma lição sobre porções.

Enquanto comia e recebia minha lição, aproveitava a companhia de minha companheira de mesa. Ocupada com o fogão, Talitha não teve tempo para conversar com quem estava do outro lado do balcão. Mas deu um show. Ao som de Tim Maia, ela preparou mais uma panela: a mandioca pré-cozida vai para a panela com a manteiga. É seguida por pedaços da costela. O caldo entra na dança. E o arroz finaliza. Para quem pediu, o ovo dá o lustre final.

Bonito de ver. Bom de comer.

Se tem uma coisa que eu posso passar desse almoço para vocês é a dica: sempre sente no balcão. It’s a dinner with a show.

Só para não dizer que eu não avisei: não é barato! O arroz custa R$ 38,00 e, com a limonada, a conta fechou em 50 golpes.

Extra: Quer outra dica de balcão? La Peruana! Fica no jardins e, como indica o nome, é comandado por uma chef peruana que serve um ceviche delicioso. Quem senta no balcão acompanha os pratos sendo finalizados e pode até trocar algunas palabras com o pessoal da cozinha. Ahhh, o preço é ótimo.

Conceição Discos
R. Imac. Conceição, 151 – Vila Buarque
(11) 3477-4642

La Peruana Cevicheria
Alameda Campinas, 1357 – Jardim Paulista
(11) 3885-0148

Texto atualizado em 30 de novembro de 2016.