Comida delivery

A ansiedade me tira a fome. Mas é um tema muito ligado à alimentação. Inspirou o primeiro guest post do blog, assinado por um amigo que, apesar de Xarope, tem certinha de açúcar em sua formula.

Muita gente fala mal de comida delivery: cara, mal feita, fria, sem graça. Mas eu adoro comida delivery. E tudo por causa de uma palavra: ansiedade.

Ansiedade não é um sentimento, é uma situação. Para mim, pelo menos.

Ansiedade não é aquilo que se sente antes de uma viagem ou de um evento muito aguardado. Ansiedade não é o desejo de que algo ocorra mais rápido ou mais cedo.

Ansiedade é o lago onde eu estou constantemente submerso, com apenas um nariz para fora; é um constante tentar ligar pontos, entender o que as pessoas pensam de mim, como me julgam e como eu devo reagir para isso ser o menos impactante possível na minha vida. É saber que cada idéia que eu tenho vai ser comparada com cada frase que eu já tive. É saber que cada tweet meu é eterno, que cada post meu no Facebook será usado como indicador de meu caráter pessoal e profissional.

E isso não para: diminui e aumenta, mas nunca some. Mesmo quando estou comendo ou cozinhando.

Entrar num restaurante pode ser uma caminhada em cacos de vidro: desde o que estou vestindo, onde eu sento, o que pedirei, como comerei, tudo é um sinal que estou passando e meu instinto é que devo controlar isso, devo passar os sinais certos. Tudo redobra se tenho companhia: o que a(s) pessoa(s) vão pensar do meu pedido, ou de como me porto?

Cozinhar é outra fonte de problemas. Sozinho eu posso errar, temperar demais ou de menos, deixar aguado, deixar duro: sou um juiz leniente comigo mesmo. Mas cozinhar para os outros é terrível: é algo que só se faz com muito cuidado, com maestria dos ingredientes, com listas do que deve ser feito e como, com métodos de preparo extremamente praticados, com conhecimento de seus convidados, com um plano de contingência, com pelo menos o dobro da comida necessária, com… mais coisas do que você quer ler.

E, com isso, muita coisa que eu como quando não estou sozinho, é Delivery. Comida preparada num restaurante, entregue por um motoqueiro. Comida normalmente sub par, com nenhum dos requintes de um prato servido, ou a customização de uma refeição caseira. Mas é perfeita.

A tecnologia nos dá a oportunidade de escolher num (sofrível) aplicativo entre dezenas de restaurantes, centenas de pratos, milhares de combinações. E, com a competição, veio um aumento da qualidade: aos poucos, restaurantes melhoram suas embalagens, a comida chega mais rápido, mais quente, melhor feita.

E eu não tenho que interagir com ninguém além do motoqueiro.

E ninguém vai julgar o que eu preparei.

E eu fico menos ansioso, menos cansado.

E o mundo fica um pouquinho melhor assim.

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