Eu experimentei meu próprio leite

Meu dias de vaca wagyu ficaram para trás. Depois de 960 dias Oli e eu desmamamos. Demos tchau pro tete, que desde então atende por peito da mamãe e saiu do cardápio do dia na Casa Passos-Marguti. A vida ganhou um novo de tom de independência, bebidas alcóolicas às cinco da tarde e fortes remédios para dor para nas costas que antes estavam proibidas para essa mãe e sua hérnia.

E o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade? Escrever sobre um dos acontecimentos mais curiosos dessa jornada: experimentar meu próprio leite.

O consumo de leite humano é um assunto e tanto. Se todo mundo tem uma opinião sobre a amamentação de bebês, literalmente umas das coisas mais naturais do mundo*, imagina o que podem pensar sobre adultos bebendo leite de gente!

A primeira reação que presenciei em relação a isso foi a normalidade, que eu só reconheci depois que provoquei uma careta de nojo de alguém ao lamber o meu leite que tinha derramado na mão ao testar a temperatura da mamadeira do Oli para a babá dele oferecer enquanto eu trabalhava. Antes apenas o Vitor, meu mozão e pai do Oli, tinha presenciado a cena e ignorado como se fosse eu tivesse coçado o nariz. Foi na cara de eca da Liliane, uma auxiliar de enfermagem que já tinha visto e cuidado de muita gente nas situações mais diversas, que eu percebi que para algumas pessoas aquilo poderia não ser normal.

Por que será que é tão estranha a ideia de consumir leite humano se você não é um bebê?

Uma pesquisa inicial aqui mostrou até menções ao canibalismo e seu tabu. O que na minha própria interpretação da amamentação faz sentido, afinal eu considero que fui comida, alimento do meu filho enquanto o amamentava. E também foi justamente a naturalidade com que me vi nessa posição que tornou tão orgânico colocar o leite que saiu de mim na boca.

Mas não é só de cara de nojinho que vive o homem e o consumo de leite humano. Com a combinação certa de palavras-chave, você encontra na primeira página no Google relatos sobre consumo de leite humano pela galera da academia (a de pesos, não de pesquisas) que trocou o whey pelo tete – já que o leite materno é rico em caseína – e alertas, muito importantes, sobre o risco de comprar e consumir leite de estranhos na internet por causa do risco de contaminação. Marombas, Pasteur não ficou famoso à toa.

E tem um galera da gastronomia que já colocou le frommage de maman no cardápio. Para quem não fala francês e não que abandonar esse texto maravilhoso para abrir o Google Tradutor: eu estou falando que tem gente fazendo queijo de leite humano. O chef Daniel Angerer serviu queijo feito com o leite da esposa com retrogosto de revolta, comparação com panacota e uma cartinha do departamento de saúde de Nova Iorque.

O leite dessa mamãe aqui já saiu de circulação, apesar aclamado pela crítica – Oli ficou alguns dias perguntando se o tete voltaria e eu mesma achei o sabor do meu leite bem gostoso, leve e docinho -, depois de cumprir sua função biológica. Mas minha curiosidade pelo tema segue em alta e pode colocar minha vida acadêmica de volta entre os pratos do dia em breve.

Agosto Dourado

Aproveitando que conquistei a atenção de vocês até esse momento, peço mais alguns minutos para louvar a palavra do aleitamento materno. Em agosto celebramos o Mês do Aleitamento Materno no Brasil e a luta pelo incentivo à amamentação.

Na teoria, é difícil pensar em algo mais natural que a amamentação. A pessoa dá à luz, seu corpo libera o hormônios, leite desce, o bebê mama. Na prática, a teoria é diferente. Tem muitas questões biológicas e sociais no caminho entre peito e boca. Amamentar não é fácil. Muita coisa pode acontecer no corpo e mente de uma pessoa que impactam no aleitamento. E a nossa sociedade coloca mais coisa em cima para prejudicar essa ação tão importante: falta de rede de apoio, rede de apoio que não apoia a amamentação, licença maternidade insuficiente, ausência de qualquer licença maternidade, resumindo, um misto bem horroroso de desigualdade de gênero e social.

Por isso, vamos incentivar, apoiar, ajudar quem quer amamentar. Sem julgar quem não quer ou não pode. Vamos falar sobre amamentação!

Deixo vocês com links legais de quem pode falar bem melhor que eu sobre o tema e um convite a compartilhar a sua experiência com a amamentação, seja como mãe, pai, rede de apoio, filhote ou curioso sobre os aspectos antropológicos da alimentação humano.

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