Fome de mãe

Eu passei boa parte da minha gravidez esperando o tal do amor de mãe bater, cair, virar a chave, descer, fazer efeito… Não bateu. Morri de culpa, levei o tema para terapia, chorei, me senti a pior mãe do mundo antes mesmo de me tornar uma. Até que, no momento exato em que o Oliver foi segurado acima do paninho que separava minha visão da cena da minha barriga aberta em sete camadas, eu entendi que eu não sentiria amor por ele tão cedo. Não o amor que eu sentia pelas pessoas queridas da minha vida, pessoas que eu conhecia profundamente, com quem eu vivera experiências formadoras e transformadoras, irmãs de alma que eu encontrara pela vida até então. Demoraria alguns meses para nos apaixonarmos e nos amarmos.

Mas a poucos minutos das 20 horas daquela quinta-feira, eu senti a mais forte, humana, biológica,fisiológica sensação que experimentara na vida até e desde então. Algo que deixou o tão famoso e esperado amor no chinelo. Uma verdadeira fome, necessidade, precisão por aquela pessoinha que tinha acabado de sair de mim.

No momento em que eu olhei pela primeira vez pro meu filho, entendi que toda vez que alguém usou a expressão amor de mãe o fez simplesmente por ignorância das possibilidades da língua portuguesa. O que a gente sente quando se conecta com nossos filhotes quando os conhecemos assim, olho no olho, não é amor. Amor é racional, social demais. A gente sente fome.

Fome de mãe é uma expressão que atende bem melhor ao que acontece com nosso corpo quando nos conectamos com a nossa cria. É uma necessidade fisiológica por aquele ser. É precisar daquela existência para continuar sendo. É o centro do universo, a gravidade, o motivo de termos chegado até aqui como espécie.

Conforme fomos nos conhecendo, finalmente nos apaixonamos. A fome diminuiu e o amor cresceu, num balanço que tornou a vida mais balanceada. Mas o centro do universo continua levemente abalado em qualquer direção em Oli esteja. 

Esse texto faz parte do desafio de escrita da Lura Editora #lura10dias.

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