Minhas leituras de 2024 – em tempo real

Minhas leituras me alimentam tanto quanto minhas refeições e lanchinhos, me nutrem, engordam, colocam minhas ideias para circular. Esse ano quero compartilhar todas as delícias da vida com vocês, por assim aqui vai a minha lista de leituras do ano, atualizada em tempo real.

Talvez você deva conversar com alguém

Autora: Lori Gottlieb

Eu não ouvi falar desse livro tanto quanto vi ele passando pela timeline e em destaque nas livrarias. Me rendi em um momento de indulgência quando comecei a me sentir estagnada na terapia e achei que uma leitura não técnica sobre o tema poderia iluminar os caminhos que eu poderia seguir. O livro fico dois meses na minha mesa de cabeceira até eu que eu coloquei o bonito na mala para a viagem de fim de ano e, apesar do que muito esperavam, ele voltou 50% lido.

As primeiras impressões foram boas. Bem escrito, bem traduzido. Nada extraordinário, mas bom, bacana. Trouxe algumas reflexões legais sobre terapia, me deu uma amostra do que poderia passar na cabeça da minha terapeuta de forma mais realista. Segui firme e sem pressa pelas 448 páginas. Lá pela página 300, as lágrimas começaram. Me senti profundamente tocada pelas histórias que começaram a se desdobrar e abrir, me senti vista e acompanhada na dor pelos personagens que ela criou para compartilhar a vida de seus pacientes.

Devorei as últimas páginas aos prantos, com os olhos do Vitor e do Oli em mim. Depois de dois anos mergulhada da apatia da depressão e dos antidepressivos, senti tudo, mas especialmente me sinto parte de todos.

Amanhã, amanhã, e ainda outro amanhã

Autora: Gabrielle Zevin

Eu gosto de intercalar ficção e não-ficção nas minhas leituras, sinto que ajuda a evitar um porre literário que resulta numa ressaca de seis meses em que eu mal consigo ler o folheto do mercado. Comprei esse romance na mesma promoção do Talvez você devesse conversar com alguém na livraria Leitura e deixei ele fermentando na mesa de cabeceira também até o momento certo. E que bom que esse momento chegou.

Um romance delicioso sobre as dores de ser e crescer que me tiraram lágrimas a cada 10 páginas. Posso estar exagerando, mas tenho a impressão que chorei sim umas 40 vezes com esse livro. Credito essa capacidade de me emocionar tanto às escolhas não-tradicionais da autora, ela mesma que foge do padrão branco que costumamos ver nas fotos de orelha dos livros. Gabrielle escreve sobre jovens miscigenados, explorando o impacto que isso tem na construção de quem eles são mas sem que isso seja a única coisa sobre eles. Ela escreve sobre pessoas com sexualidade fluída e como isso faz parte deles, mas sem defini-las. E, talvez a minha escolha favorita dela para a história, escreve sobre relações entre homens e mulheres que não se limita ao amor sexual, sem excluí-lo completamente. Estou embasbacada com o talento dessa mulher para escrever pessoas tão reais com tamanha leveza.

Mais um livro em que eu me vi. Vi dores, cores, amores como os meus.

O amanhã não está à venda

Autor: Ailton Krenak

Aproveitei o fôlego de vida que o livro da Gabrielle me deu e abri outra obra com amanhã no título no carro voltando da viagem de carnaval – levar os livros para viajar tem sido muito eficiente para mim. O livro do Krenak estava juntando poeira virtual no Kindle desde 2020 quando foi publicado. Eu sabia que era importante, mas não tinha em mim durante aquele ano a energia mental para encarar o banho de realidade que ele traria em suas poucas páginas.

O primeiro impacto do livro foi me levar de volta imediatamente aos primeiros meses de isolamento, que coincidiram com meus primeiros meses de gestação. Eu ainda não encontrei as palavras para descrever o que foi fazer uma vida em meio a tanta morte, mas essa leitura me ajudou a voltar a olhar para aquele momento. Da mesma forma que o Oli me faz olhar para toda a vida.

O normal jamais voltou depois da pandemia para mim, porque não tem normal depois eu me tornei mãe. Eu não parei nada importante quando o isolamento social começou porque a coisa mais importante estava acontecendo dentro de mim. Meu amanhã deixou de ser só meu… Meu ontem também. Fazer e criar uma pessoa me despertou para minha conexão com tudo, meu impacto em tudo.

Um texto essencial sobre aquele período que mudou o mundo.

Esse texto está em desenvolvimento contínuo ao longo de 2024 e é atualizado sempre que eu termino uma nova leitura. Até o próximo!

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