Cozinha não é um lugar de certezas

Eu não acredito em precisão na cozinha. Aprendendo a cozinhar com a minha mãe, cresci usando as receitas mais como indicações do que como fórmulas a seguir. Faço panqueca no olho. Tempero o arroz com o nariz. Nem sempre acerto, mas tenho uma taxa de sucesso de 96%* que satisfaz. A única garantia é que nunca vai sair igual. O que eu acho até bom, porque quem quer padrão é fábrica. Eu sou toda artesanal.

Reconheço que essa liberdade com as medidas vem de me sentir à vontade na cozinha e entre seus habitantes. Qualquer ação ali me parece natural. Menos fritar torresmo e cozinhar feijão. Confesso, tenho uma baita medo de panela de pressão. Não tem erro grotesco demais. É só bater o olho na receita e me deixar levar. Confiando no olfato, no bom senso e na intuição. Experimentando no meio do caminho. Correndo pro telefone se uma dúvida acende. “Mãe, como é que eu sei que tá bom?”

Eu me jogo e torço para a multidão de vegetais me segurar. Desviando de facas afiadas e panelas quentes. Eu sangro e queimo, é claro. Mas com moderação. Bem pouquinho. O suficiente para não debochar. O suficiente para me esforçar e suar. Ler de novo. Perguntar mais.

Caminho entre as possibilidades que cada preparo gera. Torcendo pelo melhor e espantada com o pior. Experimentando sempre. E dando segundas, terceiras e quartas chances. Para mim mesma. Para as receitas. Para os ingredientes. Nunca se sabe quem de nós vai se transformar. Como é que eu vou saber se quem mudou fui eu ou a abobrinha?

*Fonte: DataPassos

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